quinta-feira, 13 de junho de 2013

À janela



Ali alguns homens e a manhã
Caminhavam.
o rastro do escuro nos sapatos
se desfazia nas solas do sol
as mãos dos namorados
se compunham
como acidentes de carro
e uma velha mulher
de uma ponta a outra
atravessava
como houvesse
no extremo
um conhecido rosto
na praça de seu corpo.


Bruno Fernandes

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um pouco mais do menos



O cisco há de ser sempre aglomerado que se iguala
a restos.
Que se iguala a restos a fim de obter a contemplação
dos poetas.
(BARROS, 2007, p.11)


Deixo farelos, logo existo.
Nunca fui um bom gatuno, no que tange agir furtivamente - embora o cresse - sempre deixava
pistas, despojos das digladiações na arena da mesa , o pão repartido pelas mãos
deixando provas que a fome não tem metodologia.
Também com os passos imprimia o cisco dos pés nos tapetes da casa , sempre os arrastando
com a fúria de pernas que ventam pela janela das calças. O fóssil do vento que a mãe reclamava
desfazer , desculturar com seus pés marítimos os castelos de areia que eu erigia em pleno corredor. É preciso deixar os pés terem infância , assumir a mímica chaplinesca de calçar com elegância o ar. Somos crianças quando semeamos os calçados pela terra na esperança que ali germine um broto de pés.
Não há prova de amor como o tapete amassado pela pressa e as migalhas de pão, na mesa, deixadas pela pessoa amada. São as pétalas da boca amanhecida esfolhando a insônia. Convencidos pelas neuroses taxamos imundície aos afetos: As folhas de árvore na frente da casa , o cigarro aceso no cinzeiro , a manteiga fora da geladeira , os papéis espalhados sobre a mesa , a caneta com as tampas trocadas. Não deixemos nos enganar pela perfeição dos métodos , os rituais nos desumanizam , o erro nos enobrece. Pois – pobre alcunha – o que chamamos de erro é o vestibular do olhar , é a graduação dos sentidos nas matérias eletivas do amor. É quando percebemos que são os pássaros – não nós – que nos lega a migalha de seu canto.
Só possuímos aquilo que perdemos , eu procuro possuir aquilo que foi abandonado. Fui um arqueólogo do suspiro. Rastreava a lágrima fossilizada , os dedos contorcidos nos objetos indesejados. Ursos de pelúcia, enforcados com o laço das águas da enxurrada, sempre me cochicharam depoimentos reais de histórias imaginárias.
Quem se presta a se repartir como um pão esfarelado pela mesa das paixões há de sempre emprestar a companhia , mesmo não estando ao lado do acompanhado. Quando minha mãe sente saudade ela não recusa o diagnóstico: trata de arrastar os tapetes pela casa e os meus castelos se refazem na areia da lembrança.  

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Primeira postagem.

 Como principal ofício este blog será destinado aos meus trabalhos e observações. Poemas , traduções, estudos e qualquer outro assunto que me apeteça, além do mais sou escravo do gosto.




A tarde amanheceu na tua boca.
             e os teus olhos
             granulados de borboletas          
Adoeciam
                    a paisagem das
Árvores.